Os sentimentos da gestante.
As alterações hormonais na gestação vêm acompanhadas de diversas oscilações emocionais. Há uma diversidade de sentimentos sejam eles de alegria, tristeza, medo, angústia, alterações de humor, de sono, de apetite, instabilidade emocional, indisposição, entre outros particulares de casa pessoa. É o momento que o corpo e a mente estão se preparando para o novo acontecimento e tudo se transforma. Esses sentimentos ambivalentes e contraditórios são comuns em todas as fases da gestação, por mais que o casal tenha se preparado e organizado para esse momento, as dúvidas e os receios em relação ao futuro sempre estão presentes.Na fase de gestação considera-se que a mulher se encontra em uma “transparência psíquica”, momento em que sua psique está mais flexível e que por isso pode estar mais aberta para elaborar situações conflitivas em relação a sua história de vida e ressignificar estas vivências. Em contrapartida, essa vulnerabilidade, também pode fazer com que as dificuldades anteriores à gestação sejam mais intensas, podendo trazer à tona sentimentos de ansiedade e depressão e outros sentimentos que até então se mantinham “calados”.
Pré-natal psicológico.
O acompanhamento pré-natal psicológico tem sido cada vez mais valorizado por toda equipe multidisciplinar que percebe como fator determinante para uma gestação e um puerpério mais saudáveis e uma melhor adaptação do casal ao bebê e vice-versa. Neste acompanhamento é avaliado sobre a história de vida, história prévia de doenças psiquiátricas na gestante e nos familiares, ideação suicida, história de abortos anteriores, bem como a situação socioeconômica e os recursos para lidar com puerpério e os possíveis obstáculos ao longo de vida do bebê, auxiliando a família para se preparar a essa nova fase.A aproximação frequente entre profissional de saúde durante o pré-natal é fundamental para que sejam percebidas alterações de humor e indicativos de ideações suicidas, ou outros comportamentos e sentimentos que podem ser sinais de uma possível presença de algum transtorno mental como a depressão e até mesmo para avaliar a predisposição a uma depressão após o parto, bem como para prevenir uma tentativa de suicídio.
Fatores de risco do suicídio materno.
Alguns dos fatores de risco para a ideação suicida e o suicídio materno são a falta de suporte familiar, ausência de parceiro, dificuldades financeiras e profissionais, gestação não planejada, gestação na adolescência, história de violência doméstica e uso de álcool e droga. Mesmo quando o ato não é consumado, as consequências podem ser devastadoras para mãe e para o bebê.Setembro Amarelo o ano todo.
Neste sentido, conversar sobre prevenção ao suicídio, não somente durante o Setembro Amarelo, mas também em todos os meses do ano faz-se fundamental, como forma de buscar compreender sobre pensamentos e ideações suicidas, principalmente em gestantes, pela fase de vulnerabilidade, como forma de proporcionar conhecimento, identificar sinais e sintomas e esclarecer a importância de buscar acompanhamento psicológico e psiquiátrico, se necessário, o quanto antes para minimizar os danos ao bebê e a sua mãe.Cuidados com a saúde mental pós gestação.
Além da fase da gestação, no momento após o nascimento do bebê, também podem ser comuns sentimentos contraditórios e confusos, como a fase do baby blues, e até mais intensas e frequentes que podem acabar causando uma depressão puerperal. Dessa forma o rastreamento da depressão deve ser feito desde o primeiro trimestre e também no período do puerpério, principalmente em casos onde houve ideação ou tentativa suicida anterior.No puerpério, o sentimento de insegurança em relação à novidade de receber o bebê, que somado a falta de sono e de descanso podem ser fatores desencadeantes para uma nova fase depressiva. Quando a depressão materna não é tratada, podem haver riscos como dificuldade no vínculo mãe-bebê, com a amamentação, complicações obstétricas, risco de suicídio e automutilação, como também atraso no desenvolvimento emocional e cognitivo do bebê. Por isso é fundamental que toda rede de apoio e profissional esteja atenta e alerta aos sinais indicativos de risco de suicídio e que possam auxiliar na busca auxílio psicológico.
À família é importante saber que é preciso autorizar a expressão dos sentimentos por parte da gestante, em todas as fases, conversar sobre situações que podem estar deixando a mulher ansiosa, preocupada, abster-se de julgamentos e poder envolver-se e apoiar o tratamento de maneira efetiva e presente, podendo compreender um pouco mais sobre como é a depressão materna e dar apoio necessário.
Segundo estudo realizado por pesquisadores no Canadá, da Universidade de Calgary, houve um aumento significativo nos casos de depressão entre as gestantes durante a pandemia coronavírus. De acordo com o levantamento, os sintomas – que costumam afetar entre 10 e 25% das gestantes – superaram os 35%. Portanto, a psicoterapia seja ela individual ou familiar podem ser um ótimo recurso para tratar casos de risco de suicídio materno, psicoeducar a gestante e a família sobre a doença, auxiliando na permissão a falar sobre os sentimentos, e na ressignificação e organização no momento atual e para após o nascimento.
Além da compra do enxoval, dos exames de ultrassom, do chá de bebê, chá revelação e outros momentos comuns para maioria das gestantes, é preciso atentar para o cuidado para a saúde mental, bem como a saúde como um todo, através do acompanhamento multidisciplinar, não somente com a consulta com ginecologista e obstetra, mas com toda uma rede extensa de apoio, equipe de enfermagem, nutricionista, profissional de educação física, psicólogo, psiquiatra e outros profissionais da saúde. É preciso adquirir a cultura e o cuidado com as emoções e preparação para as novas mudanças.