No último dia 10, foi celebrado o Dia Mundial de
Prevenção ao Suicídio. No Brasil, a data foi estendida para o mês inteiro: o
Setembro Amarelo. A intenção é esclarecer o que é ideação suicida, desmistificar o tema,
debatê-lo com a sociedade e levar informação e ajuda a quem precisa, com o
intuito final de salvar vidas.
A psicóloga Suzane Busatta Ignachewski, destaca que “os
índices, nas últimas décadas, têm sido bem altos”. “Daí a importância de poder
falar sobre esse assunto que, muitas vezes, é visto como um tabu.”
Na entrevista a seguir, a profissional, com formação
pelo Unicentro - Universidade Estadual do Centro Oeste); Residência Integrada
Multiprofissional em Atenção à Saúde Oncológica pelo HE - UFPel; pós-graduada
em Psicoterapia de Orientação Psicanalítica pela Unochapecó; e formação em
Psicoterapia Sistêmica Individual, de Casal e Família, ajuda a entender como
identificar os sinais que podem levar ao suicídio em si e nos outros, como
tratá-los e, assim, preservar a vida.
Qual a importância de estabelecer uma data, no caso um
mês, o Setembro Amarelo, para discutir o suicídio?
A campanha Setembro Amarelo é associada ao Dia Mundial
de Prevenção ao Suicídio, comemorado em 10 de setembro. No Brasil, em 2015, o
CVV (Centro de Valorização à Vida), o Conselho Federal de Medicina e Associação
Brasileira de Psiquiatria buscaram associar essa proposta do mês referente à
data e também esta cor, que traz toda uma simbologia a respeito de uma
tentativa de suicídio nos Estados Unidos. Então, tem-se essa ideia de trazer
essa conscientização da importância da prevenção ao suicídio. Os índices, nas
últimas décadas, têm sido bem altos. Daí a importância de poder falar sobre esse
assunto que, muitas vezes, é visto como um tabu. Quanto mais a gente traz esse
assunto em pauta para a sociedade, mais a gente leva conhecimento para as pessoas,
com o intuito de prevenir, de evitar perda de outras vidas também.
Na prática, como acontece essa ajuda?
A campanha traz a questão da conscientização para
falar sobre o assunto de uma forma mais clara, de tentar identificar os sinais,
os sintomas, o que a gente precisa fazer quando tem alguém próximo da gente ou
quando a gente está passando por alguma situação difícil e que está precisando
de ajuda: como a gente ajuda alguém, onde a gente busca ajuda? É todo um contexto
voltado a essa campanha para poder auxiliar as pessoas de uma forma mais
científica e com informações de qualidade.
Quais os números de casos registrados anualmente no
Brasil e no mundo?
Existem dados que apontam que cerca de 12 mil
suicídios são registrados todos os anos no Brasil e mais de 1 milhão no mundo.
O suicídio continua sendo uma das primeiras causas de morte em todo o mundo e
algumas estimativas da Organização Mundial da Saúde apontam que uma em cada 100
mortes é devido ao suicídio. Número que levou a Organização a produzir novas
orientações para ajudar os países a melhorar e ter estratégias de prevenção ao
suicídio e de atendimento a essas pessoas também. Entre os jovens de 15 e 29
anos, o suicídio foi a quarta principal causa de morte, depois de acidente de
trânsito, tuberculose e violência.
Existe um perfil, por sexo, idade, classe social e
região? Ou o suicídio está presente entre todos?
Essas taxas, não tem como a gente discriminar
exatamente, porque o suicídio não escolhe gênero, não escolhe idade, não
escolhe classe social. Acontece com todo mundo. Então, essas taxas acabam
variando por países, região, entre homens e mulheres. Mais homens morrem devido
ao suicídio do que mulheres, mas as taxas de tentativas de suicídio são maiores
entre as mulheres do que os homens. É que as mulheres tentam mais e os homens concretizam
mais.
Mesmo com a característica de cada país ou região
influenciando nas taxas, existe uma orientação mundial sobre como evitar o
suicídio?
A Organização Mundial da Saúde lançou uma orientação
para implementação de uma abordagem que se chama Live Life, de prevenção
ao suicídio. São quatro abordagens nesta estratégia, que são limitar o acesso
ao método de suicídio, como pesticidas, armas de fogo; educar a mídia sobre a
cobertura responsável do suicídio - quer dizer, quando for divulgar alguma
situação sobre o suicídio, saber exatamente o que falar, como falar, cuidar com
morte de celebridade ou mesmo cuidar com discrição dos métodos que a pessoa
usou para se suicidar; a terceira estratégia é desenvolver habilidades socioemocionais
para a vida em adolescentes; e a quarta é a identificação precoce, avaliação,
gestão e acompanhamento de qualquer pessoa afetada, que esteja passando por
pensamentos ou comportamentos suicidas.
Existe uma pré-disposição que leva as pessoas a
tentarem contra a própria vida? O ambiente, pessoas, drogas e etc. influenciam
a ideação suicida, ou é algo estritamente íntimo?
O suicídio é considerado um fenômeno multifatorial e multideterminado.
Existem vários fatores, várias causas, para que uma pessoa pense em cometer
suicídio. São fatores genéticos, fatores biológicos, psicológicos, sociais,
culturais... Situações de vida também: separações, desemprego, luto, morte de
familiares próximos. Essas são algumas situações que podem colocar a pessoa numa
situação de vulnerabilidade, onde ela imagina que a única saída que ela tem
para si mesmo seria cometer o suicídio.
São casos de desespero enorme?
Normalmente, um pensamento muito comum da pessoa que quer
se suicidar é que, na verdade, não necessariamente ela quer morrer. Mas ela
quer acabar com aquela dor, acabar com aquele sofrimento. E um índice muito
alto de pessoas que cometem o suicídio são de pessoas com algum transtorno
mental presente. Alguns casos de depressão, casos de transtorno bipolar, outros
transtornos mentais, uso de drogas também - o álcool e outras drogas são
fatores de risco. Mas é importante pensar que esses dados são considerados a
partir dos suicídios confirmados. Entretanto, existem outros suicídios que não
são tão claros assim. Por exemplo, um acidente de trânsito, às vezes, é
considerado um acidente de trânsito, mas pode ter sido uma tentativa de
suicídio, pode ter sido um suicídio. Então, esses dados são muito maiores do
que normalmente a gente pensa.
Como uma pessoa que passa a ter ideação suicida deve
enfrentar esse sentimento?
É importante a gente poder esclarecer o que é ideação
suicida. Ideação suicida ou pensamento suicida é quando as pessoas pensam ou
planejam algum ato de suicídio. Os pensamentos e esses planos podem variar de a
pessoa ter um plano definido, como ser algo ou pensamentos aleatórios que
passam na sua cabeça, uma consideração passageira sobre esse pensamento de tirar
a própria vida. E esses pensamentos são muito comuns. Muitas pessoas
experimentam esses pensamentos, esses sentimentos, quando estão sob algum
estresse ou sofrendo um transtorno, depressão ou passando por uma situação de
conflito. Mas, na maioria dos casos, esses pensamentos são temporários e são
tratados. A pessoa consegue buscar ajuda e não chega ao ponto de correr o risco
de cometer o suicídio ou de fazer uma tentativa. Entretanto, em outros cenários,
a pessoa acaba tentando, muitas vezes não concretizando. Mas o fato de a pessoa
ter tentado uma vez na vida cometer suicídio é um fator de risco para que ela
venha cometer de novo.
E como buscar ajuda?
A primeira coisa que a pessoa que está passando por
uma situação assim precisa entender é que ela não está bem e que “tudo bem, a
gente não dar conta de tudo, o tempo todo” e “tudo bem, buscar ajuda”. Eu acho
que essa é a parte mais importante que a gente precisa deixar claro: “tudo bem,
a gente precisar de alguém”, “tudo bem, a gente buscar ajuda profissional,
buscar ajuda da rede de apoio”. A pessoa que está passando por isso precisa
comunicar sua família, precisa comunicar os amigos, as pessoas próximas, que
talvez possam estar disponíveis para ajudar, para buscar um acompanhamento
psicológico e um acompanhamento psiquiátrico também, o quanto antes.
Mas como dar este passo?
Não adianta, às vezes, a pessoa se julgar, se cobrar,
pensar que não deveria estar pensando... Isso não vai resolver a situação. É
preciso aceitar, acolher a presença desses sentimentos, dar atenção para esses
pensamentos, para esses sentimentos, e poder expressar isso para a rede de apoio,
que vai poder dar esse suporte. Então, é importante não sentir vergonha desses
pensamentos e procurar ajuda. Quando esses pensamentos suicidas acabam dominando
a mente, é como acreditar que ninguém pode ajudar e que colocar fim à vida seja
a única solução. Mas é importante saber que a ajuda, tanto de amigos quanto de
familiares e, principalmente, de profissionais da Saúde pode ser uma forma de
fazer com que esses pensamentos cessem, que as coisas se organizem na vida dessa
pessoa.
Há mais algo que a pessoa que passe por esta situação
possa fazer?
Um outro ponto talvez importante é poder conhecer a
história de superação de outras pessoas, pessoas que conseguiram superar esses
pensamentos; buscar uma rede de apoio que seja acolhedora e não julgadora; ter bons
sonos, ter uma boa qualidade de sono é importante; ocupar o tempo com
atividades prazerosas; fazer coisas que mantêm longe desses pensamentos
negativos.
Como amigos e familiares podem auxiliar essas pessoas?
O primeiro ponto é poder procurar um lugar calmo para
conversar, reservado, onde a pessoa possa se abrir; poder ouvir essa pessoa sem
julgamentos. É importante que a pessoa saiba que pode confiar em você, que você
não vai julgar ou não vai criticar os pensamentos ou não vai menosprezar os sentimentos.
Poder sugerir para essa pessoa para ela buscar ajuda de serviços de Saúde ou,
dependendo da situação, de buscar um serviço de emergência. Quando a pessoa
está em risco iminente de suicídio, a gente não pode deixar essa pessoa sozinha,
porque é muito fácil ela acabar cometendo suicídio no momento de impulsividade.
Um outro ponto também, caso essa pessoa conviva com
você ou seja uma pessoa mais próxima, é se certificar de que ela não tenha
acesso a meios letais. Às vezes, facas, armas, remédios controlados – caso a
pessoa faça uso. Então, esse tipo de coisa precisa ficar sob o olhar de uma
outra pessoa, que não está numa situação de risco, para ela tomar cuidado disso.
Outro ponto é manter um contato constante com essa pessoa,
acompanhando nas atividades. Dependendo da situação que ela está, ter a rede de
apoio do trabalho, que vai estar acompanhando. Às vezes, até levar ao trabalho,
buscar no trabalho, é uma atenção que preciso ser bem constante. E é por isso
que a rede de apoio precisa ser grande, porque uma pessoa só não vai dar conta
de cuidar sozinha de toda essa demanda de uma pessoa que está em risco de cometer
alguma coisa contra sua vida.
Em caso de casais, como marido ou mulher pode ajudar o
parceiro com transtornos?
Normalmente quando a gente fala de cônjuges, são as
pessoas que passam mais tempo juntas. Mas não quer dizer que, por uma pessoa
estar em sofrimento, os outros conflitos do relacionamento não continuem. Entretanto,
quando está em risco tão grave a vida da pessoa, é importante que a gente evite
algumas coisas. É preciso se mostrar disponível, não julgar ou criticar os pensamentos
ou a fala dessa outra pessoa, buscar a rede de apoio social, profissional,
familiar. Evitar cobranças, evitar conflitos por situações que, às vezes,
acontecem na vida doméstica. Então, é importante e é um papel bem difícil, na
verdade, do cônjuge que está junto com essa pessoa, porque é uma situação de
tensão a todo momento. É preciso ser muito paciente, entender que a pessoa está
em sofrimento mental e que, nesse momento, a gente precisa conter algumas
coisas individuais, em função de um bem maior, que é a vida da outra pessoa. Então,
compreender que ela está passando por uma situação difícil e que quanto mais
pessoas tiver ao redor, mais a gente vai conseguir salvar essa pessoa.
E os filhos, como agirem com os pais? E ao inverso?
Eu penso que em relação aos filhos, é uma situação bem
delicada. Dependendo da idade que esses filhos têm, eles não têm a capacidade e
a maturidade para auxiliar os pais numa situação assim, de risco. Pensando em
filhos menores de idade, precisa de uma rede de apoio maior, da família extensa,
tios, avós ou outras pessoas, vizinhos, que vão poder dar esse suporte. Porque,
um filho menor de idade não vai conseguir dar esse suporte. E mesmo filhos que
são maiores de idade, é difícil dar esse suporte para os pais. É claro que os
filhos vão ter que fazer esse papel, pelo cuidado, pela necessidade, pela vulnerabilidade
dos pais nesse momento, mas precisa ter outras pessoas engajadas, irmãos – tios
dos filhos, no caso irmãos da pessoa que está com depressão –, de lutar com
esses pensamentos suicidas. E, da mesma forma, o inverso. Para os pais pode ser
muito desafiador tentar entender o que esses filhos estão passando, esses
filhos que às vezes são jovens, estão sentindo. Mas quando existe alguma coisa
que indica que algo está errado, é preciso tomar os cuidados para evitar que o
pior aconteça. Então, poder perguntar, poder escutar, estar atento, não
negligenciar ou minimizar o sentimento da pessoa, poder ser paciente e também
buscar essa ajuda profissional o quanto antes. Mesmo que às vezes o filho não
deseja, é preciso buscar ajuda, sim, porque é só através de toda essa rede que
a gente vai dar um suporte maior para essa situação.
Existem sinais que podem apontar um suicida em
potencial?
Uma tentativa anterior de suicídio é sempre um fator
de risco importante para se levar em consideração. Se a pessoa já teve uma
tentativa de suicídio, pode ser que ela venha tentar outras vezes. Então, é um
fator de risco que a gente precisa estar atento. Mas ela pode acontecer com
qualquer pessoa, com qualquer faixa etária, com qualquer gênero, com qualquer
classe social. Alguns fatores podem ampliar o risco. Como eu falei, os
transtornos psiquiátricos, transtornos mentais, em especial quando se trata de
depressão; transtorno bipolar; ansiedade; esquizofrenia; caso de abuso de
drogas ou álcool; caso onde há traumas psicológicos, situações de abuso sexual
infantil, na adolescência; problemas financeiros, também dependendo da situação
e como é a pessoa - mais para homens -, problemas financeiros podem ser o
motivo que leva ao suicídio.
Como identificar esses sinais?
É importante estar atento a alguns sinais que podem
ser a pessoa começar a conversar sobre morte, começa a falar que gostaria de
estar morto ou que está incomodando demais, que não gostaria de estar dando
esse incômodo para as pessoas... Pode começar a ter uma falta de cuidado com
aparência, com banho, a vestimenta... Uma falta de cuidados, assim, de uma
forma geral. Mudança de humor: às vezes, a pessoa era de um jeito mais
extrovertida e acaba sendo mais introvertida, acaba mudando. Sempre de um jeito
que a pessoa era, ela muda o padrão de comportamento. Mudança no sono também, às
vezes, a pessoa dorme demais ou tem insônia. Algumas tentativas de fazer as
pazes com pessoas do passado, fazer despedidas, conversar sobre herança, conversar
sobre cemitério e rituais de morte. Tudo isso, a gente precisa dar atenção.
Uma vez identificados esses sinais, como agir?
Às vezes, a gente tem uma falsa ideia de que a pessoa
que vai cometer o suicídio não avisa e isso é errado, porque normalmente as
pessoas avisam. Então, quando a gente escuta alguém dizer ‘Ah, eu prefiro estar
morto. Seria melhor que eu tivesse morrido’, é importante que a gente tenha
atenção. A gente tem ideia de que isso é só para chamar atenção, mas não é
assim que funciona. Quando a pessoa avisa, a gente precisa ligar o nosso radar,
estar atento, buscar o máximo de informações, buscar o máximo de pessoas
possível para poder estar ajudando essa pessoa.
Há ainda um grande preconceito que ronda os
transtornos psicossociais, como ansiedade e depressão, por exemplo. É esse um
motivo para que as pessoas continuem se “autoexterminando”?
Eu penso que ainda hoje é difícil as pessoas falarem
para outras que elas fazem terapia, ou que elas precisam se consultar com um
psicólogo, com um psiquiatra. As pessoas acabam tendo vergonha de falar sobre
isso. Diferente de dizer que você cuida da sua saúde física, que vai a um nutricionista
ou que tem personal trainer, falar que vai no psicólogo é uma coisa meio
estigmatizada ainda. Então, todo esse cuidado com a saúde mental ainda não é
algo tão valorizado. E quando existe um transtorno mental, ainda mais. A depressão
e a ansiedade têm uma aceitação, entre aspas, um pouco melhor para as outras
pessoas. Mas outros transtornos, como transtorno bipolar, Borderline, que não são
tão conhecidos assim, as pessoas acabam sofrendo ainda mais preconceito. E
outra situação de preconceito muito comum é em relação ao gênero. A dificuldade
de a pessoa se sentir aceita pelo grupo também pode ser um fator de risco, um
fator que pode levar ao suicídio, como no caso de pessoas que são homoafetivas,
que talvez não têm o apoio familiar, o apoio social, também podem encontrar
esse meio como uma saída para se livrar da situação que estão vivendo.
As redes sociais são um “monstro” ou uma grande aliada
na prevenção ao suicídio?
Eu acredito que as redes sociais podem ser as duas
coisas: da mesma forma que elas nos conectam com pessoas queridas, então há
possibilidade de interagir, de aprender coisas novas, a gente também fica
exposto a uma realidade que é parcial da vida dos outros - a gente expõe uma
parte da nossa vida, fica exposta a vida parcial e o que é exposto é sempre um
recorte. E para quem está vendo pode parecer que aquelas fotos bonitas, aquela
comida sempre apetitosa, sejam a realidade como um todo. Ainda não é raro a
presença de sentimentos de frustração, de desesperança, insatisfação com a
situação amorosa, profissional, financeira, por essa parcela que a gente está vendo
da realidade dos outros. Então, é preciso muita atenção no uso das redes
sociais, para que a gente não se torne refém dessa vida que a gente está vendo,
que é a vida virtual e não é a vida real.
No mundo atual, com a sociedade enfrentando a pandemia
e suas consequências, com a polarização político-ideológica levada ao extremo,
com a pressão do mercado econômico, como manter a saúde mental e evitar a
ideação suicida?
Eu acho que é uma situação bem delicada, que ninguém está
livre de ter pensamentos suicidas, de ideias suicidas. Mas a gente precisa sempre
levar em consideração e tomar muito cuidado com nossa saúde mental. Cada vez
que a gente se respeita e se cuida, começa a compreender um pouco mais quais
são os nossos limites, as nossas necessidades, a gente tende a se cuidar um
pouco mais e aí esses pensamentos acabam sendo menos presentes, digamos assim.
Quanto mais a gente previne que a gente adoeça, previne o adoecimento mental,
mais a gente vai estar cuidando da nossa vida. Eu acredito que também ter o
apoio da família, poder conversar, se expressar, se sentir aceito pelos grupos,
também ter uma rotina de vida saudável, evitar uso de álcool e outras drogas, evitar
o isolamento social - apesar de a gente estar numa situação bem delicada -, mas
se manter conectado com as outras pessoas, se manter conectado com outros
grupos.
Também é importante fazer exercícios físicos, manter
uma alimentação equilibrada e ter cuidado com o nosso sono... Não descuidar
dessas coisas que, às vezes, são pequenas, mas se somadas elas acabam fazendo
uma diferença bem significativa nas nossas vidas.
Poder gostar do que a gente faz, buscar atividades prazerosas,
ter atividades ao ar livre, enfim, encontrar alguma coisa que faça sentido para
você - quem gosta de ouvir música, quem gosta de ler, ver filmes... Então, buscar
essas atividades e, talvez, se a pessoa não conhece, não sabe dizer essas
coisas que dão prazer, tem que encontrar de alguma forma, tem que experimentar,
se dar a oportunidade de ter algumas outras experiências para poder buscar
entender o que me relaxa, o que me faz descansar, o que me faz sentir bem: estar
junto com amigos, estar junto com familiares, participar de grupos sociais, grupos
de mulheres, de homens, grupos de amigos, de casais amigos. Acho que toda essa questão
social grupal, do sentir-se pertencente a algum grupo ajuda bastante essa
questão de saúde mental.
E claro, também, eu acho que a questão da psicoterapia
é fundamental para qualquer pessoa, mesmo para quem não está em sofrimento mental.
A psicoterapia é uma ferramenta que ajuda a gente a melhorar, ajuda a gente se
conhecer, a se desenvolver pessoalmente, socialmente, profissionalmente, nos
relacionamentos amorosos. Então, acho que a gente sempre tem que levar em
consideração essa opção da psicoterapia como uma ferramenta de cuidado, de
respeito, de a gente entender um pouquinho mais sobre nós mesmos.