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Rituais Familiares

Publicado em 21/12/2021

Compreender sobre os rituais familiares e sobre sua importância é fundamental para a transmissão de valores, crenças e culturas de geração a geração.



Ao pensarmos sobre rituais nosso imaginário flui para eventos de passagem, cerimônias e tradições familiares. Além dos rituais familiares conhecidos como nascimento, batizado, formatura e casamento, existem aqueles que são particulares de cada família. São hábitos partilhados de forma relativamente estruturada e padronizada, através dos quais os membros de uma família se expressam e se manifestam, consciente ou inconscientemente, representando sentimentos, pensamentos e ideais que nem sempre podem ser traduzidos em palavras ou que tem um significado que vai além das palavras.


Os familiares possuem concepções e lembranças partilhadas sobre o mesmo ritual, como por exemplo uma sobremesa típica e apreciada por todos, uma atividade ou brincadeira que os familiares costumam fazer, alguma “piada interna”, e diversas situações que podem ser emocionantes, cômicas ou trágicas compartilhadas.

Eles podem ser rituais simples como a hora de dormir, o banho, o escovar os dentes, a "contação de uma história", um beijo ou abraço de bom dia, o churrasco feito no domingo, o filme do sábado a noite, a fada do dente, o café de manhã com panquecas, o chimarrão ao amanhecer ou entardecer, o piquenique, atividade física da família, ou ainda rituais mais difíceis de serem passados como o velório, o enterro, a missa de 7° dia, etc.

Os rituais familiares dão um sentido de pertencimento aos membros da família, ou seja, uma identidade familiar.
Eles têm a capacidade de tornar um momento comum em algo de único, precioso e específico de uma família ou grupo de pessoas. Além disso expressam também um senso de estabilidade, transmitindo valores e crenças, bem como informações culturais e normativas que reforçam a herança familiar. As religiões também possuem diversos ritos que são compartilhados pelo grupo e transmitem os mesmos sentimentos de pertencimento.

As crianças e os adolescentes, devido ao momento do ciclo de desenvolvimento que estão, podem ser os maiores beneficiados pela existência dos rituais e pela preparação para o que é esperado deles em cada momento familiar, eles também auxiliam no sentido de previsibilidade e estabilidade emocional, bem como de fortalecimento de vínculo familiar, contribuindo para a identidade individual.

Rituais familiares de pais para filhos

Alguns rituais familiares se perpetuam de pais para filhos, trazendo boas recordações e sentimentos agradáveis. O aspecto de repetição dos rituais traz à tona essas lembranças e, portanto, faz com que o indivíduo possa acessar os sentimentos mais primitivos e íntimos daquela família. Ademais, os rituais têm poder de transformação, de ressignificação e elaboração de situações difíceis individuais e familiares. Podem se referir a despedida de pessoas queridas, trabalho, relacionamento ou mesmo morte.

O ritual sela através de ações e comportamentos o pensamento e o sentimento grupal, por isso do fato dele ir além do que palavras podem expressar, podem ser utilizados para estabelecimento de novo ciclo e fechamento do anterior, demarcando claramente o início e o fim de um período. O clima envolto ao ritual pode se tornar um momento oportuno para que novos acordos sejam criados e relações novas ou mais saudáveis passem a surgir a partir desse momento.

Em se tratando das festas de final de ano, existem alguns rituais familiares compartilhados socialmente, como a ceia na véspera de Natal ou a comemoração apenas no dia 25. Em algumas casas o Natal é celebrado com um jantar, em outros com músicas e danças ou orações e reflexões, também podem ser trocados presentes e serem feitas atividades que torne possível a rememoração a respeito do ano que passaram, os momentos difíceis e de sofrimento, como também aqueles de união, parceria e felicidade. Também pode ser momento de uma nova esperança, de reconciliação, de perdão e de disponibilidade para mudança.

No Ano Novo, por exemplo, pode ser comemorado com familiares na casa de alguém que pode ser o centro de todos os membros, ou ainda uma viagem familiar. A simbologia dada a data, mesmo que socialmente compartilhada, ela pode ganhar novos sentidos em cada família, promovendo reflexão, comunicação e memórias no interior das famílias.

Os encontros e momentos de partilha em família podem ser ricos de oportunidades de lembrar histórias antigas e transmitir aos membros mais jovens. As histórias costumam ser cheias de significados essenciais para que se conheça um pouco mais sobre os valores, princípios e também sobre a dinâmica familiar, sendo ferramenta essencial para compreender um pouco mais sobre os membros daquela família e sobre seus comportamentos diante de diversas situações.

Nem todas as famílias possuem rituais familiares e forma de convívio saudável, então certas atividades e comemorações podem ser motivo de lembranças tristes, a respeito da vida familiar ou mesmo em relação a lutos de pessoas significativas para aquele núcleo. Apesar disso, é possível que novos rituais sejam criados ao longo das gerações. Mesmo quando a família não tem hábitos que os membros julguem adequados a serem transmitidos, é possível elaborar novos modos de realizar as comemorações e poder estabelecer um novo padrão de funcionamento, que ao longo dos anos poderá se fortalecer e transformar o que antes era patológico em algo saudável.

Que nestas datas que estão por vir, você possa se conectar ainda mais com sua herança familiar, sua história, o legado transmitido entre as gerações. Que vínculos possam ser restituídos, lembranças reelaboradas e ressignificadas. Busque conhecer sobre sua origem, faça perguntas, reveja fotos antigas, façam brincadeiras! É possível que grandes revelações sejam feitas e grandes histórias descobertas.

Eliza Inaê
Suzane Busatta Ignachewski
Psicóloga (Unicentro - Universidade Estadual do Centro Oeste);
Residência Integrada Multiprofissional em Atenção a Saúde Oncológica pelo HE - UFPel;
Pós-graduada em Psicoterapia de Orientação Psicanalítica pela Unochapecó;
Formação em Psicoterapia Sistêmica individual, de casal e família.
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