Ao longo da história da Saúde Mental no Brasil, os pacientes psiquiátricos eram segregados, marginalizados do convívio social e submetidos a tratamentos desumanos.
A Reforma Psiquiátrica, iniciada no ano de 2001, permitiu mudanças significativas na maneira de atender e acolher as pessoas com transtornos mentais, e o foco passou a ser o cuidado humanizado.
Neste podcast da Fundação Allan Kardec, a assistente social Elisa Francisconi Fróes, que trabalha no Hospital Psiquiátrico da instituição há dez anos, destaca o novo conceito de atendimento, a importância de uma equipe multiprofissional, incluindo os profissionais de Serviço Social, para assegurar a maior qualidade do tratamento e permitir que o paciente seja cuidado em sua dimensão integral, possibilitando assim resultados mais eficazes.
Elisa acredita que um dos maiores desafios atualmente é combater a ideia de que os pacientes devem residir nos hospitais psiquiátricos. É claro que as internações ainda são necessárias para atender pacientes em surto, mas as instituições não devem se tornar moradias.
Confira as abordagens sobre esse tema feitas por Elisa Fróes e ouça o podcast da Fundação Allan Kardec com ela:
Novo conceito de atendimento
Assim que a Reforma Psiquiátrica aconteceu, foi colocado em pauta o cuidado humanizado dos pacientes em sofrimento psíquico. Antes, eles eram segregados da convivência social e submetidos a tratamentos desumanos. As discussões dos trabalhadores em Saúde Mental, unidos aos familiares desses pacientes, viabilizaram a efetiva reformulação dos atendimentos em Saúde Mental e a quebra do modelo hospitalocêntrico.
Modelo hospitalocêntrico
Quando utiliza-se o termo hospitalocêntrico, significa aquele modelo de “depósito de loucos”, que tinha a intenção de higienizar, excluir esses pacientes da convivência social e familiar. Porque, na verdade, o hospital é muito importante ainda na existência dentro da Raps, a Rede de Atenção Psicossocial, para aqueles pacientes em quadros agudizados, que são aquelas pessoas que estão tendo delírios místicos, religiosos, delírios persecutórios, ouvindo vozes, vendo vultos, com ideação suicida, tentativa de suicídio. Então, quando estão neste quadro, os pacientes precisam estar dentro de um ambiente protegido, acolhedor, com equipe especializada para atendê-lo, até o controle dos sintomas, até o ajuste medicamentoso e a condição de ser encaminhado para a Rede de Atenção Psicossocial.
A Raps
Quando o paciente tem a melhora do quadro, a equipe faz o encaminhamento dele para a Raps (Rede de Atenção Psicossocial), dá alta do hospital e ele é encaminhado para um desses serviços. A Raps é composta pelos Capss, que são Centros de Atenção Psicossocial, o Ambulatório de Saúde Mental, o Hospital Dia e o Hospital Psiquiátrico.
O Serviço Social
Dentro de uma internação, o papel do assistente social é fazer as orientações aos familiares, colher dados, fortalecer os vínculos, orientar sobre o atendimento da Rede de Atenção Psicossocial, da importância do apoio da família, da inclusão desse paciente nos vínculos familiares e na sociedade.
Os profissionais de Serviço Social também fazem os atendimentos aos pacientes durante a internação, no sentido de fortalecimento de crítica, consciência de morbidade, orientações pertinentes ao processo de alta, melhora da autoestima, busca de autoconhecimento, de aceitação da doença e adesão ao tratamento pós-alta.
Esses atendimentos do Serviço Social podem acontecer tanto individualmente, quanto em integração com algum profissional da equipe multidisciplinar.
Além disso, o assistente social faz o contato com os equipamentos do município, sejam eles de Saúde ou de Assistência Social, como forma de viabilizar a garantia de direitos tanto do paciente, quanto dos familiares.
Desafio
O principal desafio do nosso setor é, sobretudo dentro do Hospital Allan Kardec, a quebra do paradigma existente até hoje de que o paciente pode residir dentro da instituição hospitalar. Esse pensamento ainda existe. Infelizmente alguns familiares acreditam que isso possa acontecer, deixar os pacientes como residentes no hospital. Também existe esse paradigma por parte de profissionais que orientam equivocadamente os familiares em relação a isso e as famílias acabam tomando decisões negligentes de abandonar o paciente dentro da instituição.