- Um café da manhã com homenagens, música, desfile e muita integração foi realizado no Bosque da Fundação para celebrar seu primeiro centenário
Emoção, integração, confraternização, celebração. A manhã deste sábado, 19, foi especial no Bosque Beija-flor, onde foram comemorados os 100 anos da Fundação Espírita Allan Kardec, fundada em Franca, no ano de 1922, por José Marques Garcia.
Cerca de 400 pessoas se reuniram para celebrar o centenário da instituição que é referência nacional em atendimento na área de saúde mental.
A cerimônia contou com homenagens, apresentações musicais e desfile dos pacientes atendidos pelo Allan Kardec, em seus diferentes serviços, acompanhados pela bateria da Medicina da Unifran (Universidade de Franca). No final, o Parabéns foi cantado ao som da Associação Banda Municipal, e servido o bolo.
Estiverem presentes diretores e conselheiros da Fundação Allan Kardec, voluntários, colaboradores, atendidos e familiares; a secretária municipal de Saúde, Waléria Mascarenhas, representando o prefeito Alexandre Ferreira; os vereadores Marcelo Tidy e Ronaldo Carvalho; representantes dos deputados estaduais Delegada Graciela e Roberto Engler; presidentes de instituições locais, como Tony Graciano, do Grupo Santa Casa, Clóvis Plácido Barbosa, da Fundação Espírita Judas Iscariotes, Rosinha Aylon, do Berçário Dona Nina, e Cleber Novelino, da Fundação Educandário Pestalozzi; e representantes de universidades, hospitais e entidades espíritas de Franca.
Os convidados foram surpreendidos com breves apresentações de Daniel Afonso Francisco, morador da Residência Terapêutica “Barbatimão”, que tocou gaita, e Rafael Henrique Miranda, paciente do CAPS AD Renascer, que cantou e tocou violão.
A celebração começou com uma oração feita por Francisco Cruz. Na sequência, as autoridades discursaram, destacando a importância da Fundação Allan Kardec para a sociedade francana e da região, sua história de superação e excelência em serviços em um século e os desafios futuros.
“Hoje nós temos o próprio hospital, com 60 leitos; o Hospital Dia, com 30 leitos, 30 atendimentos diários; o CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) Florescer, que atende 150 pessoas por dia; o CAPS Renascer AD (Álcool e Drogas), com mais 150 pessoas por dia; o projeto Inspiração, que são as oficinas de geração de trabalho e renda, com 70 pessoas por dia sendo atendidas; e cinco Residências Terapêuticas, que nós fazemos a gestão para mais 50 pessoas”, enumerou o presidente da Fundação Allan Kardec, Mario Arias Martinez. “Ao todo, a Fundação tem atendido mais de 500 pessoas todos os dias.”
O presidente destacou que uma instituição ou, até mesmo, uma pessoa com 100 anos não tem como passar tanto tempo sem se reinventar. “Nós passamos por várias fases da Fundação, e foi justamente essa capacidade de nos reinventar a cada momento, de poder se estruturar para atender as necessidades de cada tempo, que nos trouxe até aqui”.
Martinez lembrou que a Fundação começou como um asilo, com pequenas casas de taipa. Depois passou a ser uma Casa de Saúde até chegar a um grande hospital psiquiátrico, antes mais parecido a uma prisão e, depois com o advento dos medicamentos, oferecendo um tratamento mais humanizado.
“Chegando agora, no nosso tempo. A partir de 2017, uma nova reformulação criou todos esses serviços que nós falamos, buscando atingir um tratamento em saúde mental moderno e de vanguarda”.
A emoção atingiu seu ponto alto quando a atual diretoria distribuiu placas em homenagem a presidentes da Fundação, a maioria já falecidos, sendo representados por seus familiares.
A festa contou ainda com brinquedos para as crianças, distribuição de picolé, algodão-doce e pipoca, além de um delicioso café da manhã
Teve também um baú do tempo, onde foram depositadas cartas de diretores e participantes da festa – quem quis pôde deixar sua mensagem; um extrato bancário da Fundação com a situação financeira atual; fotos; produtos das oficinas da Fundação, como uma mandala do CAPS, uma placa de computador, uma caixa de couro e um quiabo seco, das oficinas de Reciclagem, Costura em Couro e Agrícola, respectivamente; objetos das Residências Terapêuticas e do hospital; além de uma edição do dia de um jornal de circulação nacional, reportagens divulgadas pela imprensa francana sobre o centenário da instituição e do A Jornal Nova Era, de Franca.
Tudo ficará lacrado no baú até 2072. A ideia é que ele seja aberto nas comemorações dos 150 anos da Fundação Allan Kardec.
A história
A Fundação Espírita Allan Kardec chega ao seu centenário protagonizando uma verdadeira revolução na Saúde Mental de Franca. A transformação no atendimento de psiquiatria prestado pela Fundação é fruto do pioneirismo plantado por José Marques Garcia (1862-1942), na década de 1920, e faz de Franca uma referência na área, através da parceria entre Allan Kardec, Poder Público e comunidade.
Tudo começou no ano de 1902, quando um grupo de crianças atirava pedras contra uma pessoa com transtornos mentais e, no mesmo local, caminhava José Marques Garcia. Ele também acabou atingido por uma pedrada na testa.
Incomodado com a marginalização dos enfermos mentais na cidade, ele passou a acolhê-los, em sua própria residência, dando auxílio e tratamentos possíveis.
Neste período, José Marques teve um sonho no qual era orientado a procurar por uma pessoa que lhe apoiaria no projeto. Acordou pela manhã e foi até o local sugerido. Quando chegou, o homem que o esperava narrou que também havia tido um sonho parecido, onde era informado que receberia a visita de uma pessoa e que deveria ajudá-la. Na ocasião, decidiu que doaria terras para a construção de uma estrutura adequada.
Pela necessidade de aumentar e melhorar o atendimento que prestava em casa, José Marques Garcia construiu, então, algumas pequenas casas para abrigar os enfermos. Surgia aí, em 19 de novembro de 1922, o Asilo Allan Kardec, na antiga Rua Irmãos Antunes, hoje Rua José Marques Garcia, no bairro Cidade Nova, em Franca.
Historicamente, a segunda entidade psiquiátrica do país, em 3 de outubro de 1933, passou-se a se chamar Casa de Saúde Allan Kardec.
Em 31 de março de 1966, a entidade adquiriu personalidade jurídica, adequando-se às exigências dos setores de saúde e administração pública, inaugurando novos pavilhões para acolhimento de um número crescente de pacientes.
Com a expansão e a diversificação das atividades, em 8 de dezembro de 1972, a entidade adquiriu o nome que carrega até hoje: Fundação Espírita Allan Kardec.
Desde a sua fundação até o ano de 1969, o trabalho desenvolvido no acolhimento dos portadores de doenças mentais era mantido por donativos filantrópicos da comunidade.
A partir de 20 de julho de 1970, foi firmado convênio com a Secretaria de Estado da Saúde - Coordenadoria da Saúde Mental, para atendimento a 100 leitos, sendo 50 masculino e 50 feminino.
Nesta época, recebia por leito/dia efetivamente ocupado, prevalecendo até a data de 31 de dezembro de 1987. A partir de 1988, foi firmado convênio com órgãos públicos, passando a receber subvenções do Estado. No final de 1989, o convênio contemplava 200 leitos por pacote.
“A Fundação completa cem anos passando por um processo de reformulação muito importante, que visa modernizar o atendimento psiquiátrico, em consonância com as diretrizes do Ministério da Saúde. Estamos em um processo onde se diminui a questão hospitalar, a oferta de leitos, mas aumenta, por outro lado, os serviços ambulatoriais, como por exemplo os CAPSs, o Desenvolvimento Humano e também as Residências Terapêuticas. É uma grande modificação no processo, mas a Fundação segue dinâmica e estamos planejando os próximos cem anos”, disse Mario Arias Martinez, presidente da instituição.
Serviços prestados hoje
Atualmente, a Fundação Allan Kardec se tornou um complexo de Saúde Mental e mantém diferentes frentes de serviços, mantendo uma média de 500 pessoas atendidas por dia. A parte hospitalar é composta pelo Hospital Dia, com 30 vagas, e 60 leitos de internação psiquiátricos disponibilizados ao SUS.
A instituição, em parceria com a Prefeitura Municipal, é gestora do CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) Florescer, que recebe pacientes com transtornos mentais, e o CAPS Renascer AD - Álcool e Drogas, voltado para atendimento a dependentes químicos. As duas unidades atendem por dia 300 pessoas.
Também em parceria com o município, a Fundação é responsável por cinco Residências Terapêuticas que acolhe pacientes egressos do hospital Allan Kardec, que moraram por anos na instituição e agora residem em “casas de verdades”. São cinco casas espalhadas por Franca, onde moram 50 pessoas.
E um dos pilares da filantropia é o programa de Desenvolvimento Humano - Oficinas Inspiração, que beneficia 60 oficineiros. Eles participam das Oficinas de Reciclagem de Eletrônicos, Agrícola e Costura em Couro. As peças de eletrônicos desmontadas para remanufatura, as hortaliças orgânicas e produtos de couro são comercializados e a renda obtida é dividida entre os atendidos pelo programa.
Vídeo dos 100 anos
Em comemoração ao primeiro centenário, a Fundação Espírita Allan Kardec narra a história, serviços prestados e planos para o futuro em vídeo disponibilizado em seu canal do Youtube, que pode ser acessado pelo link